É tão incrivelmente difícil dar animais para adopção.
Desde os desafios logísticos aos emocionais. Não há um mapa claro sobre o que fazer ou como fazer. As incertezas estão sempre presentes e as oportunidades de erro são imensas.
Pronto, agora que já introduzi o tema de uma forma tão optimista vou tentar redimir-me partilhando as minhas dicas para encontrar adoptantes e gerir adopções.
Mas atenção, a experiência ajuda-me a navegar um pouco melhor por esta aventura mas não promete um caminho sem obstáculos. Cada história de um animal é uma aprendizagem e a única constante é termos de ser criativos na abordagem a cada caso.
Há imenso para partilhar sobre este tema mas, para já, deixo-vos os pontos essenciais e as estratégias mais pragmáticas.
fotos exemplo (Ariel)
Divulgação:
marketing comunicacional
Aviso, tudo o que se segue é pura campanha de marketing num mercado cheio de concorrência em que cada animal não tem mais que 10 segundos para se vender.
Infelizmente, há muitos mais animais abandonados do que famílias a querer adoptar, é triste mas é uma realidade incontornável. Outro facto completamente fora do nosso controlo é que os humanos são racistas, sexistas, idadistas, aparêncistas,… ou seja, são extremamente discriminatórios em relação à sua visão sobre os animais de companhia e baseiam as suas escolhas em preconceitos emocionalmente enraizados e muito pouco permeáveis a argumentos. Pois é, os animais brancos, pequenos, de pelo comprido e idade jovem são automaticamente desejáveis enquanto os de pêlo escuro e curto, tamanho grande e já adultos vão ficar na prateleira a vida toda. Já para não falar nas raças e nos profundos disparates que as assombram. Choca, mas todos nós somos (mais ou menos) influenciados por esta cultura e sem a reconhecermos não a podemos combater.
Isto tudo para dizer que temos que ser muito estratégicos na forma como apresentamos o nosso “produto” (o bicho) e como comunicamos com o nosso “cliente” (o adoptante).
FOTOGRAFIA
Tirar fotos do animal é um passo tão imensamente importante que vale a pena investir muito para conseguir fotos fantásticas. Uma boa câmara e um favor de um fotografo amigo é o ideal mas mais do que boa técnica precisamos de uma boa mensagem. As fotos devem ser tiradas num contexto feliz, nunca atrás das grades ou em qualquer cenário miserável. Os adoptantes querem visualizar como é que aquele animal seria na sua família, por isso é que funciona bem uma foto com o animal ao colo, a brincar e a receber festas, com muita luz natural e cores alegres. Sofás, relva, brinquedos, uma coleira gira e outros acessórios são os elementos chave da história mas também os humanos, outros cães e gatos podem ajudar a mostrar o quão social é o nosso bicho. Pronto, agora é só tirar muuuuuitas fotos em diferentes contextos e fazer vídeos dinâmico mas curtos.
ESCRITA
Para acompanhar as imagens é preciso um texto. Depois de dar um nome (giro e com personalidade – é uma ferramenta emocional para apaixonar alguém!) ao cão ou gato, escrevemos sobre as suas características básicas (ex: o Bobi é cruzado de labrador, tem 3 anos e adora água). Depois das primeiras linhas que apresentam resumidamente o bicho podemos entrar num parágrafo mais detalhado para contar toda a história do resgate dele (a puxar à lágrima) e de seguida começar a descrever a sua personalidade e o tipo de família em que seria feliz (ex: é muito enérgico, adora atenção e faz amigos com todas as pessoas e animais (…) procura uma família activa, que o leve a dar grandes passeios no campo e na praia e que adore jogos e correrias).
Há características menos boas? Temos que falar nisso também mas não é preciso condenar o animal a uma má primeira impressão. Vamos abordar o tema mas pela perspectiva do copo meio cheio e depois ao telefone ou ao vivo podemos ser mais explícitos. Não esquecer que há gostos para tudo e um gato preguiçoso que não se dá com outros animais, por exemplo, pode ser descrito como “a Fifi é muito independente, não exige muita atenção e adora passar os serões no sofá, é muito paciente e gosta de todo o tipo de humanos mas prefere ser o único animal da casa”.
PUBLICAÇÃO
A internet é o nosso melhor canal de comunicação e ao divulgar na nossa rede pessoal é onde vamos ter mais atenção mas conseguimos alargar muito as hipóteses se colocarmos anúncios nas grandes plataformas de adopção:
- Adopta-me.org
- Animalife
- Grupos de adopção no Facebook
- e outros …
E muitas vezes uma estratégia alternativa é mais eficaz pois foge à concorrência e destaca-se:
- Colocar cartazes de adopção pelo bairro, nos parques, lojas, veterinários, etc
- Passear o cão com um letreiro a dizer “adopta-me”
- Fazer um blog/Instagram/Facebook só do bicho
- Massacrar os amigos que deviam ter um animal de companhia
- e outros…
fotos exemplo (Piri-piri)
Triagem:
montanha-russa emocional
E de repente alguém se apaixona pelo bicho! Se formos nós ou a sua Família de Acolhimento Temporário (FAT) é o que se chama uma FAT falhada, mas não há nada de errado em descobrir que a solução temporária passa a definitiva. Se for um amigo ou familiar, excelente, vamos ficar descansados que estará bem entregue. Mas quando recebemos um contacto de um desconhecido para adoptar este inquilino do nosso coração, é assustador! Será que é boa pessoa? Será que é cuidadoso e dedicado? Será que não se vai arrepender?… há milhares de preocupações que nos assolam e ainda bem que assim é.
Há muito boa gente no mundo mas também há má gente, gente boa que faz o mal, gente com boas intenções e gente baralhada da vida. Para proteger o nosso protegido vamos ter que fazer uma triagem e tentar descobrir a categoria do seu pretendente.
CRITÉRIOS
Há quem acredite que para o bem dos bichos é melhor não os dar a quem compra ração de marca branca, a quem deixa os gatos aceder à rua, a quem só passeia o cão 2 vezes por dia, a quem não protege as janelas com redes, a quem não deixa o cão entrar em casa, etc… Os critérios devem vir da consciência de cada um. Pessoalmente, claro que confio mais numa família parecida com a minha, que faz as mesmas escolhas e tem o mesmo estilo de vida, mas não acho que deva excluir quem é diferente de mim se puder dar uma boa vida ao animal (até porque normalmente não chovem opções1). Prefiro ser menos restritiva na escolha e investir antes em apoiar a família que levar o bicho para casa com informação e recursos para serem melhores cuidadores.
INVESTIGAÇÃO
Para efeitos de triagem gosto de começar com uma conversa telefónica, quero essencialmente saber se têm alguma característica de exclusão (pensando na personalidade e necessidades do animal), e se tudo correr bem marcamos uma visita. Sob o pretexto de conhecerem o animal, fico eu a conhecê-los a eles e posso observar como interagem e colocar perguntas. Vou procurar sinais de alerta na interacção (têm medo, são brutos, são inexperientes, o bicho não engraçou com eles…), perguntar pelos animais passados (morreram de quê? desfizeram-se de algum? que vida lhes davam?…) e pelas expectativas futuras (se percebem o trabalho e custos que um animal dá? estão cientes das suas necessidades específicas? estão dispostos a fazer os compromissos necessários? que estilo de vida visualizam?…). Utilizar um questionário pode ajudar nesta triagem, seja para nos orientar ou para preencherem previamente mas para mim nada substitui a conversa cara-a-cara.
COMPROMISSO
Depois vêm as regras de adopção. Eu escolho pedir a assinatura de um contrato para formalizar a transferência de responsabilidade. E o pagamento de uma taxa de adopção (peço 30€) que ajuda a cobrir parte das despesas – desparasitação, vacinação, colocação de microchip, esterilização, alimentação e cuidados de saúde normalmente fica em várias centenas de euros por isso acreditem que não há lucro nisto!
Aceitar assinar um contracto e pagar uma taxa é também uma prova de compromisso que nos dá confiança no adoptante. E um sinal de respeito em apoio a todas as associações que tentam impor estas práticas em Portugal.
ENTREGA
Conversas feitas, amizades travadas, regras aceites, falta apenas levar o animal a conhecer a sua nova casa. Idealmente, vamos fazer uma transição suave e combinar vários encontros antes do dia da mudança definitiva. Assim tornamos a adaptação do animais mais confortável e reduzimos o risco de problemas comportamentais e fugas. Esta é a chamada de atenção mais importante que faço sempre, nas primeiras semanas numa nova família, o animal vai estar activamente a tentar fugir para onde vivia, é preciso TODO O CUIDADO para garantir que não há nenhum acidente!
2 meses é mais ou menos o tempo que um animal demora a adaptar-se à sua nova vida, seja cão, gato, ou os animais humanos que também se estão a ajustar ao novo companheiro. Por esta altura, se tudo correr bem, podemos então começar finalmente a suspirar de alívio!
vídeo exemplo (Ariel)
texto exemplo (Ariel)
Ariel, a menina do mar
Encontrei a menina do mar na praia, estava triste e assustada mas veio a correr para mim com beijos e aninhou-se nas minhas pernas. Chamei-lhe Ariel mas também lhe chamam, Maré.
É muito jovem, não terá mais que 1 ano. Tem um porte esguio e atlético e muita vontade de brincar, mas não é hiper-actividade, é boa-disposição : )
Adora bolas e correrias mas nunca se afasta muito, a sua coisa favorita é mesmo um humano para companhia e mimos. Pede muito colo, festas e sofá, em troca dá os famosos beijos e não estraga nada. É asseada em casa, bem-comportada na rua, e tem um olhar inteligente e profundo que adivinha uma grande aluna.
Não precisa de uma casa grande nem de uma família muito activa, pode viver com crianças e outros animais (cães, gatos, roedores…). Está esterilizada, vacinada e desparasitada e será entregue para adopção mediante candidatura.
Mais informações e videos: [links]
Contactos para adopção: [nome, email e telefone]
Nota: a Ariel demorou 1 ano a ser adoptada.
vídeo exemplo (Piri-piri)
texto exemplo (Piri-piri)
Piri-piri em forma de gato
O Piri-piri tem um tempero muito doce mas cheio de energia! É um gato macho com cerca de 2 meses que foi resgatado da rua, reabilitado, e está agora pronto para ser adotado.
Adooooora brincar, tem explosões de correria e aventura intensas que intercala com momentos de mimo e muito ronron. Apesar do seu passado silvestre, hoje já está completamente apaixonado pelos humanos. Cumprimenta-nos com miados carinhosos e muitas marradinhas, e elege o nosso colo como o melhor sítio para dormir a sesta.
Gosta de dar beijinhos e dentadas carinhosas nos nossos dedos mas aprendeu a ser muito delicado e não magoar. Também está a aprender a vir à chamada, a entrar na transportadora e a usar o arranhador.
Em termos de saúde, passou com distinção no exame veterinário, está desparasitado interna e externamente, já começou a levar as vacinas e colocará o microchip brevemente.
A sua adoção implica um compromisso de esterilização e o pagamento de uma taxa de adoção.
Quem quer candidatar-se a apimentar a sua família?!
Vídeos: [links]
Contacto: [nome, email e telefone]
Nota: o Piri-piri demorou 3 semanas a ser adoptado.